Ao longo de mais de dois séculos, a bandeira do Egito acompanhou e muitas vezes antecipou as grandes mudanças políticas, sociais e religiosas da nação. Cada alteração no desenho simbolizou novas alianças internacionais, revoluções populares ou projetos de unificação pan-árabe. Conhecer essa evolução é, portanto, mergulhar em capítulos decisivos desde os tempos de Muhammad Ali até a república moderna, revelando como o tecido tricolor de hoje nasceu de sucessivas camadas de significado.
Quando Muhammad Ali assumiu o controle do país, o Egito ainda era formalmente um eyalet do Império Otomano, mas já experimentava um forte desejo de autonomia. Para refletir a ambição expansionista de seu exército, que lutou na Ásia, Europa e África, propôs-se uma insígnia vermelha com três grandes estrelas brancas em alusão a cada continente conquistado, acompanhadas do crescente islâmico. Essa composição não apenas mostrava poder militar, mas também uma identidade que ia além das fronteiras otomanas ao projetar o Egito como protagonista regional.
Na maciça Revolução de 1919 contra a ocupação britânica, dois estandartes surgiram como símbolos de resistência: a antiga bandeira vermelha de Muhammad Ali e uma bandeira verde inédita contendo lua crescente e cruz. O desenho verde expressava união entre a maioria muçulmana e a minoria copta — uma clara mensagem de coesão nacional diante do domínio estrangeiro.
Com o Tratado de 1922, que reconheceu a independência nominal do país, o rei Fuad I instituiu uma nova bandeira verde-esmeralda marcada por meia-lua e três estrelas brancas. Cada estrela representava um território vital do reino Egito, Sudão e Núbia enquanto o verde simbolizava a fertilidade do vale do Nilo e o ressurgimento de uma monarquia constitucional. O estandarte tremulou durante a edificação de grandes obras de irrigação, a fundação de universidades modernas e as turbulências da II Guerra Mundial, tornando-se ícone de um breve, porém influente, período liberal no Oriente Médio.
Quando os Oficiais Livres depuseram o rei Farouk, atribuíram às novas cores republicanas um programa simbólico claro:
Esse tricolor influenciou diversas nações árabes Iraque, Sudão, Síria e Iêmen adotaram faixas semelhantes, distinguindo-se apenas pelos emblemas centrais, prova da força do “modelo egípcio” no pan-arabismo emergente. Curiosamente, mesmo após a proclamação da república, a antiga bandeira real continuou a aparecer em alguns edifícios oficiais até o final da década.
Em 1958, Gamal Abdel Nasser anunciou a República Árabe Unida (RAU), que unia Egito e Síria em um Estado único. Para marcar essa fusão, substituiram a Águia de Saladino por duas estrelas verdes representando as duas repúblicas. Embora a união tenha durado apenas três anos, a bandeira biestral continua a ser usada pela Síria até hoje, evidenciando o legado emocional do projeto.
Mais tarde, em 1972, Sadat tentou uma nova coalizão a Federação das Repúblicas Árabes reunindo Egito, Líbia e Síria. O tricolor permaneceu, mas o emblema virou o Falcão de Coraix, clã do profeta Maomé, reforçando a identidade pan-árabe islâmica. O bloco foi dissolvido em 1977, porém deixou lições diplomáticas que reverberam na Liga Árabe contemporânea.
A versão definitiva surgiu com a lei n.º 144 de 1984. Mantém as três faixas horizontais vermelha, branca e preta e reinstala a Águia dourada de Saladino no centro da faixa branca. A inscrição no escudo diz “República Árabe do Egito” em árabe coufique. Esse desenho consagrou-se como símbolo de soberania após os acordos de paz com Israel e a reintegração plena do Sinai.
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